"Meu Filho Mora Comigo, Mas Me Despreza": O Que Fazer Quando a Alienação Parental Continua Sob o Mesmo Teto?
- Ana Olliveira
- 17 de nov.
- 4 min de leitura
Ele mora com você, mas obedece a ela. Entenda por que seu filho o desrespeita e como quebrar esse ciclo de dor sem destruir o que resta da relação.
Este é, talvez, o cenário mais cruel e psicologicamente desgastante da alienação parental: aquele em que o pai, após anos de luta, consegue a guarda do filho (ou o filho passa a morar com ele), mas nada muda.
O filho está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente. Ele o trata com desprezo, desrespeita suas regras e atua como um "soldado" ou "porta-voz" da mãe, acatando ordens à distância.
Se você está vivendo isso, saiba: sua dor é legítima. E o que você sente não é frescura, é o "eco" de anos de abuso. Você está sendo provocado a "partir para a ignorância" e perder a razão, justamente porque seu filho foi condicionado a esperar isso de você.
O que fazer? A resposta exige uma estratégia de paciência, firmeza e, acima de tudo, compreensão da causa desse comportamento.
Por que ele faz isso? (Entendendo a Dor)
Seu filho não é seu inimigo. Ele é, assim como você, uma vítima de um padrão de abuso. Como você mesmo mencionou, ele viu o pai ser humilhado pela mãe durante anos.
Infelizmente, para ele, esse padrão de desrespeito à sua figura se tornou o "normal". Ele está, de forma inconsciente, repetindo o único comportamento que ele conhece para aquela dinâmica familiar.
O desprezo que você sente não é "do seu filho"; é o desprezo da sua ex-parceira, usando seu filho como mensageiro. Ele está preso em um conflito de lealdade: para se sentir "leal" à mãe (a quem ele pode ver como "vítima" ou "mais forte"), ele precisa "punir" o pai.
O Desafio: Como Agir no Calor do Momento
Seu objetivo imediato não é "ganhar" a briga ou "ser o chefe". Seu objetivo é quebrar o padrão de abuso sem se tornar um abusador.
Regra de Ouro: Não Reaja à Provocação No momento em que você grita, xinga ou "parte para a ignorância", você se iguala à agressão que sofria. Pior: você confirma para o seu filho a narrativa que a mãe (provavelmente) conta sobre você ("viu como seu pai é descontrolado?").
O que fazer: Respire fundo. Saia do cômodo por um minuto se precisar.
O que dizer (com calma e firmeza): "Eu não vou ser tratado com desrespeito na minha própria casa. Eu sou seu pai, não seu inimigo. Vamos conversar quando você estiver calmo."
Separe o "Mensageiro" da "Mensagem" Não culpe seu filho pelas ordens da mãe. Reconheça a manipulação e aponte-a, mas sem agressividade.
O que dizer (sobre as ordens dela): "Isso que você está falando é uma regra da casa da sua mãe. Nesta casa, as regras são diferentes, e quem define sou eu. E tudo bem ser diferente."
O que dizer (sobre o desprezo): "Quando você fala assim comigo, você está sendo desrespeitoso. Eu não te trato assim e não aceito ser tratado assim. Eu sei que você está repetindo o que ouviu por muito tempo, mas esse ciclo de humilhação termina aqui."
Estabeleça o "Território Neutro e Seguro" A casa da sua ex-parceira era um território de conflito. A sua casa tem que ser o território de regras claras, consistência e, acima de tudo, segurança.
Regras Claras: Defina poucas regras, mas que sejam essenciais (horário, tarefas, respeito verbal). Cumpra o que foi estabelecido. Ele precisa de estrutura.
Reforce o Vínculo (Fora do Conflito): A mãe o usa para o conflito. Você deve usá-lo para a conexão. Faça coisas com ele que não tenham a ver com "regras" ou com a mãe: um jogo, um filme, cozinhar algo. Ele precisa lembrar quem você é sem a interferência dela.
A Lei ao Seu Lado (Mesmo Sob o Mesmo Teto)
O fato de seu filho morar com você não significa que a Alienação Parental (Lei nº 12.318/2010) terminou. O que você descreve é a continuação dela, de forma remota.
O Artigo 2º da lei é claro: considera-se alienação a "interferência na formação psicológica da criança". Isso inclui "dificultar o exercício da autoridade parental". A mãe, ao dar ordens à distância que minam sua autoridade de pai, está cometendo um ato de alienação.
O que Fazer (A Médio e Longo Prazo)
Você não vai resolver sozinho um trauma que levou anos para ser construído.
Terapia para o Filho (Urgente): Seu filho está sendo psicologicamente abusado e está preso em um conflito de lealdade. Ele precisa de um profissional, um terapeuta, que seja um espaço neutro onde ele possa verbalizar o que sente sem medo de "trair" a mãe ou o pai.
Terapia para Você (Importante): Você precisa de um lugar para lidar com a "dor do desprezo". Se você não tratar essa dor, ela vai vazar na sua relação com ele. Você precisa de apoio para se manter firme.
Ação Legal (Revisão da Situação):
Documente Tudo: Guarde prints do filho dizendo "minha mãe mandou eu fazer X", áudios, e-mails. Documente as situações de desrespeito.
Consulte seu Advogado: Leve essas provas ao seu advogado. O juiz que determinou a guarda precisa saber que a mãe continua a interferir de forma prejudicial.
O que pedir na Justiça? O juiz precisa saber disso. Pode ser necessário:
Determinar terapia obrigatória para o filho (e para a mãe, se possível).
Intimar a mãe para que cesse a interferência na sua autoridade parental, sob pena de multa (Art. 6º da Lei 12.318).
Pedir um Estudo Psicossocial com pai e filho (mesmo morando juntos) para que um profissional de confiança do juiz ateste essa manipulação e sugira caminhos.
Conclusão
Você está em uma maratona, não em uma corrida. Você não está apenas "disciplinando" um filho rebelde; você está tentando "resgatar" um filho que foi treinado por anos a ver você como um alvo.
Sua paciência e sua calma, combinadas com a ação firme da terapia e da Justiça, são o único caminho para quebrar esse ciclo de dor.



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