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O Mito do Culpado Único: Quando a Recusa em Olhar no Espelho Alimenta a Guerra do Divórcio

  • Foto do escritor: Ana  Olliveira
    Ana Olliveira
  • 13 de nov.
  • 4 min de leitura

A insistência em culpar 100% o ex-marido pelo fim do relacionamento não é sobre os fatos. É sobre a incapacidade de uma pessoa lidar com a própria responsabilidade e com a dor do fracasso.


A insistência em culpar o outro é, quase sempre, uma dificuldade patológica em olhar para si mesmo. Quando uma pessoa não consegue admitir os próprios erros e a complexidade do fim (o "conjunto de fatores"), ela precisa criar uma narrativa simplista onde existe um vilão (o ex) e uma vítima (ela).


A Narrativa de um Vilão

É um padrão dolorosamente comum: o relacionamento termina e, para uma das partes, a história do fim é reescrita. O que foi um desgaste complexo, um "conjunto de fatores" que levou ambos à exaustão, é transformado em uma história simples: "Ele me destruiu", "Ele acabou com tudo", "A culpa é 100% dele".

Como você bem observou, essa insistência em culpar o ex-marido é o sintoma de um problema muito mais profundo: a absoluta dificuldade em olhar para si mesma e admitir os próprios erros.

Por que essa autoanálise se torna "impossível" para algumas pessoas? E como essa negação se torna o combustível para o "jogo sujo" e a alienação parental que discutimos antes?


1. A Psicologia da Negação: Por que é Tão Difícil "Olhar no Espelho"?

Ninguém entra em um relacionamento pensando no fim. Quando ele chega, é um atestado de fracasso — não necessariamente de uma pessoa, mas de um projeto de vida. Lidar com isso exige uma enorme maturidade emocional.

Para quem não a possui, a negação e a projeção são mecanismos de defesa:

  • Defesa do Ego Frágil: Para algumas pessoas (muitas vezes com traços narcisistas), admitir um erro ou uma falha é insuportável. A ideia de "eu também errei" ou "eu também contribuí para o fim" é psicologicamente devastadora. É mais fácil projetar toda a culpa no outro do que lidar com a própria imperfeição.

  • A Construção da Vítima: Ao se colocar como a única vítima, a pessoa ganha (em sua própria mente) uma superioridade moral. "Eu sou a boa, ele é o mau". Essa posição de vítima é poderosa: ela justifica qualquer ato futuro. Se ele é o "vilão", então ela tem o "direito" de puni-lo, de falar mal dele e de "proteger" os filhos dessa figura "tóxica".

  • A Incapacidade de Lidar com o Luto: O fim é uma morte. A recusa em ver a realidade (o "conjunto de fatores") é uma forma de ficar presa no estágio da "raiva" do luto. Ela não consegue processar a tristeza e a aceitação, então ela se perpetua na raiva, pois a raiva dá uma sensação (falsa) de controle e poder.


2. O "Conjunto de Fatores": A Verdade que Ninguém Quer Contar

Sua observação sobre o "conjunto de fatores" é a chave. Nenhum relacionamento saudável morre por um único tiro. Ele morre por milhares de pequenos cortes que, muitas vezes, ambos os lados infligiram:

  • A comunicação que falhou.

  • As expectativas que não foram ditas.

  • Os pequenos desrespeitos diários (de ambos).

  • A falta de parceria na rotina.

  • Divergências na criação dos filhos.

  • A perda da admiração e da intimidade.

Para a pessoa que precisa do "culpado único", admitir essa complexidade é impossível. Por quê? Porque se o fim foi complexo, significa que talvez ele pudesse ter sido evitado, ou que ela também tem responsabilidade. Isso é muito mais doloroso do que o ódio puro.

É mais fácil odiar um vilão do que lamentar um "nós" que se perdeu.


3. Como a Culpa Alimenta a Alienação Parental

É aqui que o seu ponto se conecta diretamente com nossas conversas anteriores. A recusa em se autoavaliar não é um ato passivo; é o combustível ativo da guerra.

Veja a lógica perversa:

  1. A Premissa Falsa: "Ele é o único culpado pelo meu sofrimento e pelo fim da nossa família."

  2. A Justificativa: "Se ele é uma pessoa tão má a ponto de causar tudo isso, ele é uma má influência."

  3. A Ação (Alienação): "Eu não estou fazendo 'jogo sujo', estou 'protegendo' meus filhos desse homem terrível. Tenho o dever moral de mostrar aos meus filhos quem o pai deles realmente é."

A ex-mulher que se lança numa campanha constante para desqualificar o pai (seja falando mal dele, dificultando as visitas ou mentindo sobre o passado) não acha que está sendo cruel. Em sua mente distorcida, ela acredita que está "revelando a verdade" ou "abrindo os olhos" da criança.

O "jogo sujo" e o uso dos filhos como arma são, portanto, a consequência direta da incapacidade dela de admitir: "Eu também errei. O fim foi culpa dos dois. Agora, vamos seguir em frente."


A Coragem da Autorresponsabilidade

O ciclo de hostilidade só é quebrado quando um dos lados (ou ambos) tem a coragem da autorresponsabilidade.

Quando uma pessoa se recusa a olhar no espelho, ela se condena a viver no passado, alimentando-se da própria raiva. O ex-marido se torna um "fantasma" perpétuo em sua vida, e os filhos são forçados a viver nesse purgatório.

Para o pai que sofre esses ataques, é vital entender essa dinâmica: não é sobre você. Não é sobre o que você fez ou não fez. É sobre a incapacidade dela de lidar consigo mesma.

Reconhecer isso não diminui a dor, mas muda o foco. A batalha deixa de ser "provar que ela está errada" (o que é impossível) e passa a ser "proteger a saúde mental dos filhos dessa dinâmica tóxica", usando as ferramentas legais e psicológicas disponíveis.

 
 
 

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Acredito que o jornalismo vai além da notícia: é sobre contexto, empatia e responsabilidade. Aqui, cada texto é um convite à reflexão, à troca de ideias e à busca por uma compreensão mais ampla do que acontece ao nosso redor.

Ana Oliveira

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Acredito que o Direito vai além das leis: é sobre pessoas, dignidade e justiça. Cada caso é uma história única, que merece atenção, empatia e técnica. No meu trabalho, busco unir firmeza e sensibilidade, transformando o conhecimento jurídico em resultados concretos e humanos.

Mais do que defender causas, meu propósito é proteger pessoas.

Dr. Rafael Leon

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