A Dor Silenciada: quando o homem também é vítima da violência psicológica e do silêncio social
- Ana Olliveira
- 20 de out.
- 2 min de leitura
A violência doméstica e psicológica não tem gênero, mas ainda carrega um viés silencioso e cruel: o de ignorar o homem como vítima. Por trás da imagem social do provedor e do forte, há milhares de homens adoecendo em silêncio — humilhados, manipulados e esvaziados de sua autonomia emocional e financeira.
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) foi um avanço inquestionável na proteção da mulher brasileira. Contudo, quase vinte anos após sua criação, o ordenamento jurídico ainda carece de instrumentos equivalentes para homens vítimas de agressão emocional ou patrimonial. Quando o agressor é uma mulher e o homem tenta denunciar, o sistema o recebe com descrédito, ironia ou indiferença.
Sem medidas protetivas específicas, sem casas de acolhimento e diante de delegacias despreparadas, o homem vítima é empurrado para a vala comum da invisibilidade. O Estado se cala, a mídia ignora e a sociedade debocha.
O mesmo machismo que oprime as mulheres também silencia os homens. Desde cedo, são ensinados a suportar, a não demonstrar dor, a “aguentar calado”. E quando sofrem abuso — psicológico, moral ou patrimonial — temem o ridículo e o julgamento. A vergonha de parecer fraco os impede de buscar ajuda.
Em muitos relacionamentos, a violência se manifesta de forma sutil: humilhações constantes, desqualificação, chantagem emocional, manipulação dos filhos e controle financeiro. O homem, por medo de conflito ou por amor aos filhos, cede cada vez mais, até perder o próprio sentido de si. Essa é a face invisível da violência psicológica — o aprisionamento emocional.
No ambiente judicial, o desequilíbrio se repete. Nas Varas de Família, ainda prevalece a presunção de vulnerabilidade automática da mulher. Alegações de violência feitas por homens são, muitas vezes, tratadas com desconfiança, enquanto falsas denúncias podem destruir reputações antes mesmo de uma apuração.
O resultado é um Judiciário que, em busca de proteger um lado, acaba ferindo o princípio da isonomia e da dignidade humana.
Negar a existência da violência contra o homem não protege ninguém — apenas perpetua uma visão distorcida e desigual. A Constituição é clara ao afirmar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. A proteção não pode ter gênero.
Por trás das estatísticas e das leis, há pessoas. Homens que amam, cuidam e se doam, mas que também sofrem, se perdem e adoecem. Homens que acreditam que ceder é ser justo, mas acabam presos em ciclos de manipulação emocional.
É preciso compreender que amor não é controle, que paternidade não é submissão e que silêncio não é paz. A libertação começa quando o homem entende que não deve provar seu valor a quem o diminui. Que pode buscar ajuda, recomeçar e reconstruir sua vida sem culpa.
Falar sobre isso não é enfraquecer a luta feminina — é ampliar o alcance da justiça.
Porque a verdadeira igualdade nasce quando reconhecemos que a dor, o medo e a dignidade pertencem a todos.
A violência psicológica contra homens é real, e o primeiro passo para combatê-la é romper o silêncio. Que este tema ganhe espaço, voz e acolhimento, para que nenhum homem precise mais adoecer em silêncio.



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